Bancários denunciam impacto de metas excessivas na Saúde Mental

Publicado por:Rogerio Novaes

Em negociação com a Fenaban, trabalhadores destacam aumento de afastamento por doenças mentais e pedem revisão da gestão por metas abusivas 

O Comando Nacional dos Bancários se reuniu na quinta-feira (25) com a Comissão de Negociações da Federação Nacional dos Bancos (CN Fenaban) para mais uma mesa de negociação no âmbito da campanha nacional da categoria para a renovação da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT).

As discussões tiveram a “Saúde e as Condições de Trabalho” como pauta. Os trabalhadores focaram no adoecimento da categoria devido à política de gestão por metas dos bancos. A Fenaban, no entanto, negou que os casos de adoecimento mental estejam ligados à atividade do trabalho bancário.

“É um absurdo a Fenaban negar que os bancários estejam doentes. Sabemos que no ambiente de trabalho é notório que as doenças mentais estão relacionadas com as cobranças abusivas”, disse Reginaldo Breda, secretário-geral e representante da Federação dos Bancários dos Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul (Feeb SP/MS) na mesa de negociação.

Dados

Apesar de representar 0,8% do emprego formal no Brasil em 2022, a categoria bancária respondeu por 3,7% dos afastamentos acidentários e 1,5% dos afastamentos previdenciários naquele ano, considerando todas as categorias do país.

Os dados evidenciam que o afastamento bancário é três vezes maior que a média geral. O Comando Nacional destacou a Consulta Nacional aplicada a cerca de 47 mil trabalhadores, que demonstra a relação do adoecimento com as metas exageradas aplicadas pelos bancos. Entre os relatos estão preocupação excessiva com o trabalho, cansaço e fadiga constantes, dificuldade de dormir, medo, entre outros.

Conforme levantamento do Departamento Intersindical de Estatísticas (Dieese), com base em dados do INSS e da RAIS, a categoria bancária foi responsável por 25% de todos os afastamentos acidentários relacionados à saúde mental em 2022.

Pressão nas Redes

A pauta foi evidenciada também nas redes com a campanha usando a hashtag #MenosMetasMaisSaude, que chegou a 1,1 milhão de uso. Além disso, uma caixa de perguntas no Instagram registrou depoimentos de como as metas exageradas afetam a vida dos bancários e bancárias. A pesquisa foi respondida por quase 100 trabalhadores em menos de 14 horas.

Eixos das reivindicações

Para a negociação, o Comando Nacional concentrou o tema em quatro eixos, sendo dos artigos 75 ao 104 da minuta de reivindicações que a categoria entregou aos bancos no começo da campanha nacional. Veja abaixo:

– Definição de metas e a política de gestão. As metas não devem ser conduzidas abusivamente e a elaboração dos programas deve contar com a participação dos trabalhadores.

– Combate ao assédio moral: Os trabalhadores registraram que os acontecimentos desse tipo de violência estão atrelados ao primeiro ponto, devido à pressão de gestores para as equipes alcançarem as metas. O comando registrou também a importância de os bancos cumprirem a cláusula 61, conquista dos trabalhadores na CCT, que prevê o combate ao assédio moral.

– Fluxo humanizado para o atendimento: Garantir atendimento humanizado para trabalhadores que, em decorrência de doenças, precisam acionar o INSS para afastamento.

– Direito à desconexão: Os trabalhadores também reivindicaram o cumprimento de cláusula que assegura o direito não terem que participar de reuniões e de não receberem qualquer tipo de mensagem de trabalho após o horário laboral.

Consulta Nacional

Além de dados do INSS que revelam que a categoria bancária tem índice superior de afastamentos por saúde mental em comparação a outras categorias, os trabalhadores trouxeram o resultado da Consulta Nacional dos Bancários, feita neste ano com cerca de 47 mil respondentes.

Na questão de múltipla escolha sobre “quais impactos a cobrança excessiva pelo cumprimento de metas causa à sua saúde?”, os resultados foram:

– 67% relataram preocupação constante com o trabalho
– 60% apontaram cansaço e fadiga constante
– 53% registraram desmotivação, vontade de não ir trabalhar
– 47% relataram crise de ansiedade/pânico
– 39% mencionaram dificuldade de dormir, mesmo aos finais de semana
– 26% sentiram medo de “estourar”, perder a cabeça
– 24% relataram crises constantes de dor de cabeça
– 23% apontaram vontade de chorar sem motivo aparente
– 23% registraram dores de estômago/gastrite nervosa

Ainda durante a mesa de negociação, o Comando Nacional apresentou dados da “Pesquisa Nacional sobre Modelos de Gestão e Patologias do Trabalho Bancário”, feita em parceria com o Instituto de Pesquisa e Estudos sobre Trabalho, da Universidade de Brasília (UnB), com cerca de 5.800 bancárias e bancários.

Entre os resultados estão:

– 76,5% relataram terem tido pelo menos um problema de saúde relacionado ao trabalho no último ano.
– 40,2% dos respondentes estavam em acompanhamento psiquiátrico no momento da pesquisa.
– 54,5% indicaram o trabalho como principal motivo para buscar tratamento médico.

Devolutivas da Fenaban

Após uma pausa, solicitada pelos próprios bancos, esses retornaram com a afirmação de que irão trazer, em próximas reuniões, propostas de avanços sobre os temas cobrados.

Informações: Contraf CUT, editado por Feeb SP/MS

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